Transcrevemos na integra o comunicado difundido por Gabi Salvo, pai da malograda navegadora Laura Salvo que perdeu a vida em consequência do violento acidente no Rali Vidreiro.
“Quando ocorre uma acidente aéreo, tudo é analisado até ao último pedaço e cada detalhe do aparelho e todos e cada um dos elementos que tiveram intervenção no sucedido até chegar, sem descanso, a resultados pese embora o esclarecimento possa levar anos a apurar as causas do acidente. Um avião, após bater no solo, no mar, nas montanhas ou numa cidade, pouco mais é do que pó e, mesmo assim, persistem até encontrar as causas do acidente. Uma vez que tudo esteja esclarecido é emitido um relatório que é, em bom rigor, a ferramenta a partir da qual se começam a tomar medidas correctivas para que, por aquelas mesmas causas, não volte a acontecer.
Posto isto, num carro de corridas não morremos por embatermos contra outro carro porque vamos bem ajustados, a carroceria não nos esmaga porque temos o rollbar, mas há duas situações no âmbito da segurança em que é preciso trabalhar mais, uma delas é o fogo e outro a desaceleração.
É um facto que o rollbar evita que a carroceria nos esmague, mas não que se deforme o veículo que, ao deformar-se, é necessário, por vezes, e para concretizar o desencarceramento da tripulação, um tempo em que se luta contra um incêndio. Já há muito tempo que venho advertindo sobre este problema, já que o sistema de extinção de um carro de prova é insuficiente para deter um incêndio alimentado por gasolina. Os depósitos de série são uma autêntica bomba que os ocupantes transportam atrás das suas costas, são frágeis, pouco seguros e em caso de acidente vertem o seu conteúdo com facilidade.
Há que modificar os depósitos, há que aumentar a extinção manual e que esteja ao alcance, mesmo estando atados com os cintos, tanto do piloto como do co-piloto. A capacidade do extintor deve de ser muito maior, o que levamos não apaga um cigarro! Vivi e comprovei que este que levamos não serve para apagar nada. Acontecerá novamente que quem não conseguir sair a tempo, será queimado vivo enquanto o público, se houver, olha sem poder fazer nada e sem poder retirá-los à medida que são consumidos.
A outra situação e a mais urgente é a desaceleração. As forças G que se produzem ao colidir com um obstáculo que não ceda no acto do impacto (o caso de uma árvore) e que causa uma paragem de uma velocidade elevada a zero em décimas de segundo, o corpo humano não resiste e sem que tenha sequer um arranhão, nem uma nódoa negra, perde a vida porque nos desmonta o interior do organismo causando derrames internos e cerebrais irreversíveis. O obstáculo é rígido pelo que não há dissipação da onda de choque resultante do impacto.
Há que efectuar estudos físicos para qual é velocidade máxima que um corpo humano pode suportar em caso de impacto e trabalhar os traçados com chicanes ou cones que adequem a velocidade à orografia do terreno, não podemos ter 600 metros para uma esquerda oito suja entre troncos de arvores, ou casas ou muros.
Ou se adequam estes parâmetros à velocidade que o corpo possa suportar num impacto seco, ou com carros cada vez mais rápidos, com maior desempenho em curva e mais eficazes não vamos parar de enterrar pilotos e co-pilotos. Porque antevejo que isto é o principio de uma lista que aumentará com o tempo se não agirmos já.
É por isto que pedi às distintas Federações Española e Portuguesa que tomem medidas e que não ignorem estes acidentes, mais concretamente três vítimas em apenas uma semana por este mesmo motivo e que a vida da minha filha e dos nossos companheiros sirva para travar esta sangria sem sentido e que tem solução.
Recebi informação de que a FIA tomou boa nota e que estão a estudar este assunto. Endereço um especial agradecimento a Manuel Aviño, o nosso Presidente, que não descansou desde que a minha filha Laurita perdeu a vida aos 21 anos. Temos que impedir que isto volte a suceder.
As minhas mais sinceras condolências, de todo o coração, aos familiares, amigos e entes queridos do co-piloto que perdeu a vida em Itália na mesma manhã que a minha filha e de Iñaki que foi também ele vitima numa circunstância idêntica e pelo mesmo motivo. Os meus sinceros pêsames a todos e vamos trabalhar para que não volte a acontecer….
Tenho-me perguntado qual o sentido da morte da minha filha e deve ser para que eu, pessoalmente mobilize todos os meus amigos, contactos e todas as minhas relações nos ralis para que se faça o trabalho de casa e se tomem, urgentemente, medidas correctores para que não morram mais Lauritas. Se, entre todos, o conseguirmos, já me fará algum sentido estas perdas tão grandes…
Um abraço com amor”