A Assembleia da República aprovou a resolução do PS para conceder honras de Panteão Nacional ao escritor e diplomata português Eça de Queiroz, recordando a sua dimensão de escritor, mas também de humanista e crítico social.
O projeto de resolução visa “conceder honras de Panteão Nacional aos restos mortais de José Maria Eça de Queiroz, em reconhecimento e homenagem pela obra literária ímpar e determinante na história da literatura portuguesa”.
O documento prevê ainda a constituição de um grupo de trabalho, “com a incumbência de determinar a data a definir e orientar o programa de transladação, em articulação com as demais entidades públicas envolvidas, bem como um representante da Fundação Eça de Queiroz”.

A iniciativa partiu de um repto lançado pela Fundação Eça de Queiroz e insere-se no espírito da lei que define e regula as honras de Panteão Nacional, destinadas a “homenagear e a perpetuar a memória dos cidadãos portugueses que se distinguiram por serviços prestados ao país, no exercício de altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa da liberdade”.
O deputado do Partido Socialista José Luís Carneiro, natural e ex-presidente de Câmara de Baião, município onde estão sepultados os restos mortais de Eça de Queiroz começou a sua intervenção por recordar a definição dos critérios para propor honras de Panteão Nacional, assinalando que Eça de Queiroz “é superiormente singular e um dos maiores vultos da literatura e cultua nacional”, que na função diplomática “defendeu com superior inteligência e com coragem a dignificação do ser humano”.
Saudando a “abertura mostrada por todos os grupos parlamentares” para esta iniciativa, considerou que este é o momento de mostrar o “apreço por Eça de Queiroz”.
O autor de `Os Maias´ merece honras de Panteão Nacional, e merece voltar a ser lido por quem manda neste país. Eça de Queiroz é um autor com a uma visão intemporal do país e da política.
João Cotrim de Figueiredo, deputado da Iniciativa Liberal
Eça terá a sua memória eternizada no Panteão Nacional. Um lugar digno, projetado no país e no mundo, e a sua memória eternizada em toda a nossa memória coletiva.
Ana Rita Bessa, deputada CDS
A concessão de honras de Panteão Nacional, a Eça de Queiroz enquadra-se nos pressupostos definidos, e não apenas pela enorme dimensão de romancista e escritor, que olhava para a arte como um poderoso instrumento transformador das sociedades. Era senhor de consciência humanista invulgar, uma consciência social que o levou a insurgir-se contra a escravatura a que estavam sujeitos os trabalhadores do engenho do açúcar em Cuba.
José Luís Ferreira, deputado do PEV
Esta singularidade de concessão está reservada a muito poucos, e Eça de Queiroz é um desses merecedores. Dos nossos, foi um dos maiores. A sua obra, a sua memória e frescura e atualidade do seu legado continuam bem vivos na nossa memória coletiva. Eça foi um dos maiores romancistas da história da literatura portuguesa e não foi só – e não era pouco – um romancista único, foi um humanista consequente, quando em Cuba, e um mordaz e irónico observador dos portugueses, em especial, dos poderosos, dos dirigentes e dos políticos. Por vezes sinto que me cruzo com algumas das suas personagens, se bem que com diferentes nomes e outras roupagens, nesta mesma assembleia.
Paulo Rios, deputado do PSD
Quero destacar o papel de Eça de Queiroz como ativista, nomeadamente na geração de 70, que gerou polémica com a questão coimbrã, que teve tantas ramificações que ainda esta quinta-feira têm impacto. Afonso Eça de Queiroz Cabral, bisneto de Eça e Presidente da Fundação Eça de Queiroz disse esperar que ´numa época em que os índices de leitura, em particular, entre os estudantes baixam assustadoramente, tenho a esperança, talvez ingénua, de que um acontecimento como este alerte para a maravilhosa descoberta da leitura´. Também o PCP assim o espera..
Ana Mesquita, deputada do PCP
Com Eça aprendemos a sentir e a pensar. Destaco a sua visão irónica dos políticos e dirigentes. O legado de Eça não acabou com a sua morte.
André Silva, deputado do PAN
Eça de Queiroz era um exemplo daquilo que poderemos considerar um ativista. É notável a sua capacidade de levar os seus leitores a pensar. Seria hoje Eça um homem de esquerda? Ele visava a transformação de um Portugal pobre, analfabeto, rural, piedoso, conservador, dominado por uma pequena elite burguesa impreparada politicamente, intriguista e ciente dos seus interesses.
Alexandra Vieira, deputada do Bloco de Esquerda
A Assembleia da República deu um grande exemplo de maturidade democrática e serviço ao país. Estamos a homenagear um dos maiores vultos da cultura e literatura do país, como também um povo e uma região onde ele se inspirou para escrever os seus romances.
José Luís Carneiro, deputado do PS
EÇA DE QUEIROZ
Nascido na Póvoa de Varzim, em 1845, o romancista de A Cidade e as Serras encontra-se entre os mais importantes escritores portugueses de sempre.

Foi autor de contos e vários romances, entre os quais “Os Maias”, que gerações de críticos e investigadores na área da literatura consideram o melhor romance realista português do século XIX.
Da sua vasta obra contam-se ainda títulos como “O primo Basílio”, “A cidade e as serras”, “O crime do padre Amaro”, “A relíquia”, “A ilustre casa de Ramires” e “A tragédia da Rua das Flores”.
Eça de Queiroz morreu a 16 de agosto de 1900 e foi sepultado em Lisboa. Em setembro de 1989, os seus restos mortais foram transportados do Cemitério do Alto de São João, na capital, para um jazigo de família, no cemitério de Santa Cruz do Douro, em Baião.