O emprego jovem, os contratos de trabalho a termo, a impossibilidade de recorrer a teletrabalho e a redução acentuada do turismo e das suas atividades “satélite” podem justificar o aumento do desemprego no distrito do Porto, revelaram especialistas. Emprego jovem e contratos a termo justificam desemprego no Porto
Segundo dados do IEFP relativos a dezembro de 2020, no Marco de Canaveses havia 399 pessoas à procura do 1º emprego, em Amarante eram 312, em Baião – 196, Resende – 120, Celorico de Basto – 98.
Em termos globais, em dezembro de 2020, estavam inscritas no IEFP à procura de emprego 2.696 pessoas no Marco de Canaveses, em Amarante 2.353, Baião 1.219, Celorico de Basto 837 e em Resende 612.
Vasco Leite, chefe da divisão da área de estudos económicos da Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), à Lusa salienta a existência de “duas realidades distintas” no distrito que explicam o aumento do desemprego.
“Por um lado, o distrito é composto pelos concelhos do Tâmega e Sousa onde existe uma elevada percentagem de população jovem dos 15 aos 24 anos, a qual tem vindo a ser mais afetada pela crise pandémica em resultado de uma precariedade deste grupo no mercado de trabalho”, frisou.
A outra parte do distrito é composta pelos principais concelhos da Área Metropolitana do Porto (AMP), onde a economia é “mais vocacionada para o turismo” e para as suas atividades “satélites” como a restauração e hotelaria, mas também para o comércio local.
Para Vasco Leite, a principal justificação para o aumento de 26% no número de inscritos nos centros de emprego do distrito, entre dezembro de 2019 e fevereiro de 2020 (mês que antecedeu ao primeiro confinamento devido à covid-19), prende-se com “o emprego jovem”, tipicamente composto por “trabalhadores mais informais e precários”.
O Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) explica que, apesar das medidas de apoio à manutenção do emprego, 45% das novas inscrições nos centros de emprego do distrito derivam da “cessação de contratos de trabalho a termo”.
“No distrito do Porto, à semelhança do padrão observado a nível nacional, o grupo etário que registou um crescimento mais acelerado do desemprego neste período foi o dos jovens com menos de 25 anos (mais de 48%)”, acrescentou.
O IEFP aponta também como justificação a “redução das atividades associadas ao turismo” e às suas atividades “satélite e de suporte” como a restauração, hotelaria, lazer, cultura, transportes, comércio e agências de viagens.
Paralelamente, setores como a ‘indústria do couro e dos produtos do couro’, da ‘agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca’ e do ‘alojamento, restauração e similares’ explicam mais de metade do aumento do desemprego entre os meses de fevereiro e dezembro.
Para Alberto Castro, professor de economia das empresas da Católica Business School, seria de esperar “um aumento mais significativo” no concelho do Porto, pela exposição ao turismo, mas o facto de, na cidade, “predominarem centros de serviços e de tecnologias da inovação contrabalançou” o desemprego.
“Os concelhos aparentemente mais penalizados são industriais”, sublinhou, dando como exemplo Felgueiras que acredita que “reflete a situação do setor do calçado”.
Quanto aos concelhos do Tâmega e Sousa, o professor acredita que o setor do mobiliário, nomeadamente as vendas online, podem ter contribuído para uma dinâmica de crescimento que não seria expectável face aos meses de confinamento.
“As pessoas vieram para casa e o mobiliário beneficiou com isso, podendo ter sido relevante para manter o emprego”, afirmou.
Para Anabela Cordeiro, professora de economia do trabalho da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP) o desemprego justifica-se pela “impossibilidade de muitas empresas recorrerem ao teletrabalho”.
“Em grande parte dos setores que predominam no distrito, não é possível realizar teletrabalho. Sabemos que a destruição de postos de trabalho foi mais relevante em atividades em que não é possível realizar o teletrabalho”, sublinhou.
Quanto ao novo confinamento, os especialistas acreditam que será expectável um aumento e agravamento dos níveis de desemprego, ainda que a região Norte tenha apresentado “uma resiliência muito significativa e a flexibilidade de alguns setores”.