VIOLÊNCIA. 68% dos adolescentes portugueses foram vítimas de comportamentos agressivos em contexto escolar
Os resultados de uma investigação da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) apontam para uma prevalência da violência interpessoal em escolas do ensino básico e secundário de Portugal Continental e dos Açores. Dos 7139 jovens, de ambos os sexos e com idades entre os 12 e 18 anos, 68% (4837) revelam ter sido vítima de algum comportamento de agressão e 64% (4634) assumem já ter praticado algum ato violento para com um colega de escola. Estes dados foram recolhidos entre os anos de 2018 e 2022, no âmbito do PREVINT, um programa de prevenção da violência interpessoal implementado em mais de uma centena de escolas, abrangendo cerca de 20 000 estudantes.
“Os atos de agressão, quer sejam perpetrados ou recebidos, acontecem de uma forma transversal em todos os anos de escolaridade e em ambos os sexos. Estes dados foram recolhidos em 61 estabelecimentos do 2º e 3º ciclo do ensino básico e secundário”, afirma o investigador da UTAD, Ricardo Barroso.
Os comportamentos de vitimação mais reportados são em 92% dos casos de natureza psicológica (como piadas agressivas, ignorar, culpar, mentir ou enganar), seguindo-se os de natureza física (pontapés, beliscar ou arranhar, ferir “a brincar”), com 82%, e os de controlo (controlar ou proibir, stalking [perseguir]), com 62%. Também se verificam comportamentos associados ao cyberbullying e de partilha de imagens íntimas sem consentimento (sexting) com uma prevalência de 58%. Embora a frequência seja inferior, não deixam de ser relatados os comportamentos tendencialmente mais graves (ameaçar com objetos ou armas, causar uma lesão corporal grave), com 38%, ou de natureza sexual (forçar uma relação), com 6%.
Quando os jovens protagonizam comportamentos de agressão, são essencialmente de teor psicológico (ignorar, piadas agressivas, ridicularizar/humilhar em público, mentir ou provocar ciúmes) em 88% dos casos, seguindo-se os de natureza física (pontapés, beliscar ou arranhar, ferir “a brincar”) e os de controlo (controlar ou proibir, stalking [perseguir]), com 84% e 55% (respetivamente). Há também registo de comportamentos associados ao cyberbullying e sexting (58%) e os comportamentos tendencialmente mais graves (ameaçar com objetos ou com armas, causar uma lesão corporal grave), com 33%, e de natureza sexual, com 3%, apesar de ocorrem com menor frequência, não deixaram de ser reportados pelos adolescentes.
“Verificámos que são dados que se mantêm constantes ao longo dos anos e embora em termos sociais se valorize mais o facto de existir violência física, uma prevalência tão elevada de violência psicológica é algo que nos preocupa, uma vez que esta tende a estar na base do sofrimento psicológico elevado dos adolescentes. A existência de trabalhos de prevenção e de intervenção junto dos adolescentes é tão crucial como junto dos pais/tutores e dos profissionais que trabalham em contexto escolar”, conclui o investigador da UTAD.