Confinamentos melhoraram qualidade dos habitats das espécies

INVESTIGAÇÃO. Um estudo realizado por investigadores do Centro de Investigação em Ciências Geo-Espaciais (CICGE), da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), concluiu que os confinamentos no âmbito da pandemia de Covid-19 melhoraram efetivamente a qualidade do habitat das espécies e deixa um alerta para a necessidade urgente de redução das atividades humanas.

“A única solução para conservar a nossa biodiversidade a longo prazo é a redução das atividades humanas. Quando o Ser humano deixa de alterar e destruir a natureza, esta recupera, possivelmente de forma rápida, como parece indicar o nosso trabalho”, destaca Neftalí Sillero, investigador do CICGE na FCUP e autor principal do trabalho.

“Este estudo prova claramente que os humanos e as suas atividades são o principal problema para a conservação do nosso planeta e da sua biodiversidade. Se queremos que as próximas gerações tenham um planeta saudável, temos que reduzir o nível de exploração do planeta”, alerta.

Para chegar a estas conclusões, os investigadores estudaram, ao longo do tempo, as distribuições e ocorrência de um vasto conjunto de espécies, ao todo, 381, de plantas vasculares, anfíbios, répteis, aves, e mamíferos, na Península Ibérica, recorrendo a cinco variáveis de deteção remota, de que são exemplos o índice de vegetação e a temperatura dos objetos à superfície da terra.

De acordo com este estudo recentemente publicado na revista Global Ecology and Conservation, por norma, a qualidade de habitat pode mudar de forma sazonal, sendo, geralmente, melhor na primavera. Esta análise decorreu antes, durante e depois dos confinamentos em Portugal e Espanha, desde julho de 2017 a agosto de 2022, e permitiu excluir a sazonalidade, pois o padrão temporal detetado, sobretudo o do primeiro confinamento – que decorreu no inverno – revelou uma melhoria significativa na qualidade dos habitats.

A equipa cruzou estes padrões com dados da qualidade do ar e da mobilidade humana, o que reforçou estas conclusões. “Todas as espécies beneficiaram, de alguma forma, destes confinamentos”, frisam.

Esta investigação, integrada no âmbito do projeto MontObEO, despertou o interesse da equipa quando, na literatura científica, surgiram “provas claras” de alterações no comportamento dos animais. “Registou-se a ocorrência de animais em centros urbanos, os pássaros cantavam mais baixo por causa da falta de barulho e houve uma melhoria clara da qualidade do ar por causa dos confinamentos aplicados como resposta à pandemia. A nossa pergunta foi se estes confinamentos trouxeram uma melhoria substancial na qualidade dos habitats das espécies. A resposta é sim: o nosso estudo comprova que a única solução de conservação efetiva e permanente passa pela redução nas atividades humanas”, conta Neftalí Sillero.

O objetivo dos investigadores é dar continuidade a este estudo e trabalhar na implementação de novas metodologias de monitorização da biodiversidade e da saúde do planeta através de deteção remota e de técnicas de modelação ao longo do tempo.

António Orlando

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