AMBIENTE. Alerta foi lançado pelo autarca amarantino, ao citar “relatos de pessoas que foram apanhadas desprevenidas no rio, com a sua subida abrupta das águas”.
O Presidente da Câmara de Amarante José Luís Gaspar está preocupado com os riscos resultantes da falta de capacidade de regulação do caudal do rio Tâmega em consequência da entrada em funcionamento da barragem de Daivões e que se prende com as oscilações repentinas do caudal do Rio Tâmega.
“A construção da barragem de Fridão, ideia que em boa hora foi abandonada, previa uma segunda barragem que servia, precisamente, para regulação do caudal. Ora, é a ausência desta capacidade de regulação que nos inquieta”, refere José Luís Gaspar.
A preocupação manifestada pelo autarca prende-se com a segurança, porque “há já vários relatos de pessoas que foram apanhadas desprevenidas no rio, com a sua subida abrupta”, revela. Há um outro fator de preocupação este de “natureza ecológica”, porque no entender de Gaspar “podemos ver-nos, a espaços, sem água no rio em Amarante, em função das necessidades que a produção elétrica tenha e que, obviamente, não têm em conta as preocupações com a fauna e a flora e com qualidade de vida das populações ribeirinhas”, refere.
Assim, José Luís Gaspar já apelou ao Secretário de Estado do Ambiente, Emídio Sousa e ao vice-presidente da APA – Agência Portuguesa do Ambiente, Pimenta Machado, para que haja “sensibilidade” e “apoio” na análise desta situação “com vista à definição das medidas necessárias, com os entendimentos e compromissos necessários, para que seja possível normalizar definitivamente esta situação”, acrescenta o autarca de Amarante.
A APA garante que registou a preocupação do Presidente da Câmara de Amarante, referindo que “as cheias são tema recorrente”, e que este ano foram atingidos vários picos de precipitação, na região. “A questão está em conseguir gerir tudo isto com Espanha, com caudais do Douro, no Porto e Gaia e depois conjugar com efeito das marés. É um exercício de gestão muito difícil”, admite Pimenta Machado.
“No fundo, é jogar com os caudais e as capacidades de encaixe das albufeiras e perceber quais os caudais que podem provocar as inundações”, explica o vice-presidente da APA.
Pimenta Machado assume que “é verdade que a cascata do Tâmega ajudaria a controlar e a minimizar” os efeitos da subida e descida do caudal do rio. “Tivemos seis eventos extremos, em que os caudais que em Daivões tinham 400m3 por segundo chegavam a Amarante com 800m3. Isto é incrível”, revela. “A barragem de Fridão foi pensada era para amortecer isto, não temos, felizmente, a barragem de Fridão, mas certo é que temos de saber lidar com a situação e é esse compromisso que assumo, o de trazer a Amarante quem gere a barragem e podermos conversar para que Amarante consiga lidar melhor com as cheias”, promete.
A barragem de Daivões está inserida no Sistema Eletroprodutor do Tâmega, concessionada à espanhola Iberdrola.
António Orlando
SABER MAIS
- Rio Tâmega é muito procurado por banhistas na época estival. A oscilação do caudal do rio tem apanhados desprevenidos os utilizadores dos areais (pequenas praias) a jusante da cidade.
- Autarquia criou três trilhos pedonais ao longo das margens do Rio Tâmega: Trilho Senhora do Vau; Trilho dos Moinhos, Trilho das Azenhas.
- Contestação cívica e política em Amarante levou a que a concessionária Iberdrola desistisse de construir a barragem de Fridão
- A Barragem de Daivões é uma barragem de gravidade em arco no rio Tâmega. Está localizada a montante da cidade de Amarante, nos concelhos de Ribeira de Pena e Cabeceiras de Basto, dos distritos de Vila Real e Braga, respetivamente.
- O projeto hidrelétrico Tâmega envolveu a construção de três novas usinas: Gouvães, Daivões e Alto Tâmega, instaladas no Rio Tâmega, afluente do Douro. As três usinas têm, juntas, capacidade instalada de 1.158 MW, o que representou um aumento de 6 % da potência elétrica total instalada no país.