Dia dos Diabos na “Cândido dos Reis”, Amarante

FESTA. O dia 24 de agosto promete muita animação, diabruras, reavivar de tradições, folia de verão e o cortejo dos Diabos na rua Cândido dos Reis, recuperando uma tradição que procura evocar os “Diabos de Amarante”, figuras de veneração popular.

Ao longo do dia, entre as 9h00 e a 1h00, a organização promete muita animação, na rua Cândido dos Reis, com decoração apropriada à festa dos Diabos. Para além do decoração a preceito e animação, fogoso convívio, com espaços festivos e de alimentação, o desafio é para que as pessoas não “sejam os anjinhos” e nesse dia venham vestidos de vermelho e preto.

O objetivo é que a população de forma espontânea se associe a um dia de festa numa das ruas mais carismáticas de Amarante, com promoções especiais nas lojas da Cândido dos Reis, animação e muita folia, primando pelo dress code vermelho e preto.

Ao longo do dia a rua vai vibrar com a atuação dos Fole & Festa, Suspensive Mood, Zés P’reiras de Bustelo, o DJ Fenrir & Nélio Jardim e o DJ Tikimho.

Mais para a noite, às 21h30, está marcado o Cortejo Folião com a réplica das figuras dos Diabos de Amarante, que serão transportados em carro de bois, desde o largo de S. Gonçalo, percorrendo a rua Cândido dos Reis.

O cortejo promete uma grandiosa manifestação popular que pretende acolher os Diabos em grande êxtase e entusiasmo. No fim do Cortejo dos Diabos realizar-se-á o esconjuro na rua Cândida dos Reis para purificação dos males e alegria dos convivas. A noite prosseguirá com animação musical e o bailarico dos diabos e das diabas.

Esta é uma iniciativa do coletivo de comerciantes “Eu Compro na Cândido dos Reis” e pretende recuperar uma tradição com a saída à rua das imagens do casal de Diabos, que ainda hoje permanece no Museu Amadeo de Souza-Cardoso. “O objetivo é retomar a envolvência destes dois diabos, enquanto referencial de algo quase místico e sobrenatural que mergulha na história e curiosidades da cidade de Amarante”, explica a organização.

“Estamos bastante entusiasmados com esta ideia de voltar a acordar o mito dos diabos, pois entendemos que é muito interessante, sobretudo porque queremos potenciá-lo num contexto de modernidade, folia, e atratividade para o centro da cidade e a sua envolvente comercial na rua Cândido dos Reis”, acrescentam os promotores da Festa dos Diabos.

Recorde-se, na célebre recriação histórica, que a imagem do Diabo e da Diaba, depois de vendidos a um homem inglês, na segunda metade do século XIX, os diabos regressaram a Amarante. Os amarantinos receberam-nos, em êxtase, organizando um “cortejo folião”, com os mafarricos (diabo e diaba) transportados em carros de bois, acompanhados pela população, onde os “recebeu o nosso Padroeiro estes dois monarcas das Trevas”, como descreveu Teixeira de Pascoaes.

A iniciativa promovida pelo coletivo de comerciantes “Eu Compro na Cândido dos Reis” conta com o apoio da Junta da União de Freguesias de Amarante (S. Gonçalo), Madalena, Cepelos e Gatão e a colaboração do Grupo de Teatro Amador T’Amaranto e da Casa da Juventude de Amarante.

Sobre os Diabos de Amarante

No interior do belo Convento de São Gonçalo, havia um casal de chifrudos. Eram os diabos de Amarante. Lado a lado com os anjos e santos daquele convento, os mafarricos – mesmo com os caracteres sexuais expostos e pouco ou nada tendo de sagrado – conquistaram a estima de monges e do povo.

Ninguém sabe de onde vieram – acredita-se que das longínquas terras da Índia. Sabe-se apenas que viveram anos largos no convento, até que estalaram as invasões francesas na região. Em 1809, durante os ataques napoleónicos, os adorados diabos foram queimados.

Findam os conflitos e o desgosto coletivo leva o povo amarantino a pedir ao artífice António Ferreira de Carvalho que recrie aquele casal das trevas. A réplica saiu perfeita e valeu ao artesão a alcunha de “Ferreira dos Diabos”.

Mas a vida dos mafarricos não seria fácil. Em 1870, o Arcebispo de Braga, D. José Joaquim de Moura decide acabar com a presença das figuras em lugar tão sagrado e manda queimar as estátuas. Mas o prior do convento limita-se a retirar-lhes as conotações sexuais. Em bom português, capa o diabo e mutila a diaba. O pior, porém, ainda estava para vir.

Alberto Sandeman, inglês de muitas posses, compra as “divindades” de Amarante – depois de um autêntico braço de ferro contra oposições internas – e leva o casal endiabrado para Londres. Amarante não se conformou e o povo da região não arredava pé enquanto não recuperasse o diabo e a diaba.

Eventualmente, Lago Cerqueira, então Ministro dos Negócios Estrangeiros, terá conseguido que Sandeman devolvesse as figuras à terra onde nasceram. “Aí vêm os diabos! Lá vêm eles”! O regresso dos monarcas das trevas foi festejado com pompa e circunstância e arrastou-se pela noite dentro. Na região, fazia-se história. É que, ainda nos dias que correm, a 24 de agosto – data em que o diabo anda na rua.

Hoje, podem ser visitadas no Museu Municipal de Amadeo de Souza-Cardoso e enriquecem o património cultural de Amarante.

António Orlando

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