INVESTIGAÇÃO. Estudo com participação da UTAD alerta: risco de incêndio sextuplicou em 20 anos. Investigação internacional revela impacto crescente dos incêndios em áreas protegidas e alerta para riscos associados à expansão da conservação passiva
O risco de incêndio nas áreas florestais aumentou “seis vezes nas últimas duas décadas“, segundo um estudo liderado pela Universidade de Lérida (UdL), em colaboração com o CITAB – Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). O trabalho foi publicado na revista científica Journal of Environmental Management.
A análise, que envolveu mais de 76 mil incêndios registados ao longo de 20 anos em regiões como o sudoeste da Europa, Califórnia, Chile e Austrália, conclui que as “áreas protegidas estão mais expostas e vulneráveis a incêndios severos“, tendo registado um aumento médio de 42% na área ardida, face ao crescimento de 17% na sua extensão.
De acordo com Paulo Fernandes, investigador da UTAD, “o alargamento das zonas florestais estritamente protegidas, onde a intervenção humana é muito limitada, pode ter consequências dramáticas nos incêndios, somando-se aos efeitos do abandono rural em curso.” O investigador sublinha ainda a necessidade de “integrar estratégias de prevenção ativa, como a gestão da vegetação, nos programas de conservação“.
Os dados revelam também que a população residente na periferia das áreas protegidas está até “nove vezes mais exposta” aos incêndios no sudoeste europeu, sendo apontados como fatores agravantes a “acumulação de biomassa, falta de acessos e orografia acidentada“.
A investigação chama a atenção para os “riscos da expansão da proteção estrita sem gestão ativa“, alertando para os efeitos involuntários de políticas de conservação que não considerem o novo contexto climático e social.
